Denise Berthier
É interessante ver os anúncios de vagas descrevendo: “buscamos profissionais com sólida experiência”. À primeira vista, já pensamos que é necessário que alguém tenha uma vasta experiência no assunto, e isto é apoiado pela experiência prática nessa área. Estão à procura de candidatos capazes de reunir conhecimentos reais e não apenas o que aprenderam teoricamente.
As empresas querem contratar pessoas que tenham vivido na pele as atividades solicitadas no cargo, por meses ou anos de preferência, a fim de conseguir uma confiabilidade maior no futuro contratado. Pessoas que passaram por muitos empregos variados, por pouco tempo cada um, passam a ideia de não terem muito comprometimento e de não terem adquirido capacidade suficiente para as demandas do trabalho.
A primeira impressão é rápida e simples: Eles não querem pessoas com licenciaturas, doutorados e MBAs. Eles não querem pessoas que tenham recebido algum tipo de formação académica. Eles não querem mais cursos. Eles querem tornar-se experientes. Uma nova abordagem à aprendizagem não vem de um intensivo de 6 meses. Não é possível adquirir experiência prática através de cursos. Então, por que não? Uma pessoa dedicada deve ser sempre capaz de falar com os seus colegas de turma, para compreender as suas opiniões. Deve também relatar-lhes, durante as aulas, as coisas que diz saber. E isto é, porque não pode ele aprender e solidificar o conhecimento? Por que não podemos considerar este conhecimento como experiência?
Podem estar a pensar em experiências sólidas, mas admito que é doloroso para mim ver que estamos em 2022 e que eles ainda estão à procura de alguma solidez. O professor polaco de sociologia Zbigmunt Bauman tem vindo a defender a ideia de que as emoções e as relações sociais se liquefazem durante muitos anos. Algumas pessoas têm outros termos para descrever o mesmo momento em que existem muitas incógnitas e muitas possibilidades, e estas possibilidades não são tão sólidas. O espaço de escritório que os escritórios da empresa abrem a todos é como um escritório aberto: não há armários, não há gavetas, não há ligações físicas, e as pessoas que estão abertas umas às outras são mais valorizadas do que as relações físicas. Os escritórios abertos não têm paredes; são fluidos, e escondem-se atrás do betão e da pintura. Oh não, isso é o que acontece! Os escritórios que são mais contemporâneos contêm frequentemente muito mais vidro do que as paredes. É o que se diz que o vidro é matéria que está num estado líquido (google isto, é espantoso).
Experiência sólida de trabalho
Mas que dizer de ter uma experiência sólida? Ah, sim! Sólida experiência de trabalho. Então porque não pedir apenas alguma experiência? Então porque é que é necessário que algo seja sólido? A experiência é dinâmica, fluida, e sem fim. É possível que a nova experiência se sobreponha à experiência anterior. É como se estivéssemos sempre atualizados (como nas aplicações de celular) com cada nova leitura, conversa, reunião, erro, e sucesso.
Então se o conhecimento não é estático e a experiência é fluida, porque é que os empregadores ainda pedem aos candidatos para terem alguma experiência sólida?
